Nem a floresta amazônica está livre de produtos químicos eternos

Uma equipe internacional de cientistas identificou, pela primeira vez, a presença de produtos químicos eternos na atmosfera da floresta amazônica. Ainda não se sabe o impacto desses produtos, cientificamente chamados de substâncias per e polifluoroalquil (PFAS), na maior floresta tropical do mundo, mas sabe-se que eles podem causar problemas no ecossistema, assim como causa à saúde humana.
Clique e siga o Canaltech no WhatsApp O que são “produtos químicos eternos”, presentes em utensílios domésticos? Como evitar a chegada ao ponto de não retorno na Amazônia?
Até então, os produtos químicos eternos já tinham sido encontrados na Antártida, em animais selvagens que habitam áreas remotas e no organismo humano. A adição da Amazônia nessa lista só mostra o quanto a poluição de PFAS é extensa, como confirma o estudo publicado na revista Science of The Total Environment.
Vale explicar que os químicos eternos estão presentes em uma ampla variedade de produtos de consumo, como no material antiaderente de panelas, em embalagens e em alguns tipos de revestimento. São conhecidos mais de 5 mil PFAS, classificados como tóxicos em algum nível. Como o próprio nome já diz, podem resistir por décadas, sem entrar em decomposição.
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Medição de PFAS
Para rastrear a presença de PFAS na atmosfera da floresta amazônica, a equipe coletou amostras do ar em diferentes pontos (alturas) de uma torre de observação, a Torre Alta da Amazônia (ATTO), que tem a altura máxima de 325 m. O observatório fica a 150 km de distância de Manaus, a capital do Amazonas.
Cientistas encontram PFS na floresta amazônica, o que pode colocar em risco a biodiversidade local (Imagem: Kourtchev et al., 2024/Science of The Total Environment)
Como parte da força-tarefa, estiveram envolvidos pesquisadores da Universidade Federal do Paraná (UFPR), do Instituto Federal do Pará (IFPA) e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA), além de membros da Universidade de Coventry, na Inglaterra.
Entre os químicos eternos mais recorrentes, está o ácido perfluorooctanóico (PFOA). Nas medições, as concentrações chegaram até 2 pg/m 3 . “O PFOA sozinho demonstrou induzir inflamação das vias aéreas e alterar a função das vias aéreas”, afirmam os autores, no artigo. Inclusive, pode contaminar o solo da região e as águas da região. Em São Paulo, evidências já mostram a contaminação de rios por estes poluentes.
O grupo ainda não sabe dizer a origem exata de tantos PFAs identificados ao redor das árvores amazônicas. Entretanto, os cientistas adiantam que, muito possivelmente, os químicos eternos não foram gerados na região, mas foram transportados por longas distâncias pelo ar.
Químicos eternos na floresta amazônica
“A Amazônia é um lugar de vegetação e vida selvagem únicas, então esses PFAS podem ter um impacto na biodiversidade”, afirma Ivan Kourtchev, pesquisador da Universidade de Coventry, em nota.
“Quando o nosso corpo confunde esse produto químico com nossos hormônios, podemos nos tornar inférteis. Se você tiver alguns animais ou uma vegetação única exposta, isso pode interromper a reprodução”, acrescenta o cientista.
“Em ecossistemas sensíveis com espécies raras ou ameaçadas, tais perturbações podem ter efeitos devastadores na biodiversidade e na sobrevivência das espécies. Esses PFAS também podem afetar negativamente a saúde das pessoas que vivem na floresta tropical”, completa.
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