Por que prendemos a respiração por mais tempo quando estamos embaixo d’água?

Pode parecer contraintuitivo, mas prender a respiração é mais fácil quando estamos embaixo d’água do que fora da água. Se tiver a oportunidade, vale a pena comparar as duas experiências. A explicação para isso está no reflexo de mergulho, também conhecido como reflexo de imersão.
Clique e siga o Canaltech no WhatsApp Qual a pressão máxima suportada pelo corpo antes de ser esmagado pela água? Quanto tempo o corpo suporta sobreviver sem oxigênio?
Curiosamente, é “apenas” uma reação fisiológica protetora e inata para preservar a nossa vida em situações de potencial risco, como um afogamento. De modo geral, os mamíferos compartilham desse mesmo mecanismo de defesa observado em humanos.
O processo que facilita prendermos a respiração por mais tempo quando estamos embaixo d’água foi recentemente analisado por pesquisadores do UNC Health Southeastern, nos EUA, em artigo científico publicado na plataforma StatPearls.
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O que é reflexo de mergulho?
As primeiras evidências sobre a reação de defesa conhecida como reflexo de mergulho foram observadas pelo médico inglês Edmund Goodwyn nos anos 1780. No entanto, o mecanismo só foi oficialmente reconhecido pela ciência quase 100 anos depois, em 1870, com a pesquisa do francês Paul Bert.
Resposta fisiológica inata do corpo humano permite que prendamos a respiração por mais tempo quando estamos embaixo d’água (Imagem: Marco Bianchetti/Unsplash)
“Quando um humano prende a respiração e submerge [afunda] na água, o rosto e o nariz ficam molhados, o que por sua vez causa bradicardia, apneia e aumento da resistência vascular periférica; essas três principais mudanças fisiológicas são coletivamente chamadas de reflexo de mergulho”, definem os pesquisadores, no artigo.
Inicialmente, as informações sensoriais da pele molhada são transmitidas pelo nervo trigêmeo. Assim, é como se a imersão (ou o mergulho) funcionasse como um gatilho para a ocorrência de mudanças fisiológicas com o objetivo de preservar os estoques de oxigênio dentro do corpo, após o recebimento do primeiro aviso.
No caso da bradicardia, esta pode ser traduzida como a desaceleração do ritmo cardíaco, o que leva ao menor bombeamento de sangue rico em oxigênio pelo corpo. O aumento da resistência vascular também auxilia nesse processo de limitar a circulação. Já a apneia é a interrupção involuntária da respiração, evitando a perda de oxigênio.
“Com o aumento da resistência vascular, o corpo pode economizar estoques de oxigênio para os órgãos vitais, incluindo o cérebro e o coração, enquanto desvia o sangue de grupos musculares inativos”, afirmam os autores. “A resposta adicional de bradicardia preserva ainda mais as reservas de oxigênio ao diminuir a frequência cardíaca, reduzindo assim a carga de trabalho do coração, que utiliza menos oxigênio”, complementam.
Tempo máximo que dá para prender a respiração embaixo d’água?
A partir desse mecanismo de defesa e de muito treinamento, os humanos conseguem prender a respiração embaixo d’água por longos períodos. O atual recorde do Guinness World Records é do mergulhador croata Budimir Šobat, após ficar 24 minutos e 37 segundos submerso.
O maior tempo que uma pessoa já ficou sem respirar, sem ajuda de aparelhos externos, foi registrada no dia 27 de março de 2021. Com o feito que garantiu um lugar no Livro dos Recordes, Šobat superou o tempo máximo anterior em 34 segundos.
“Esse recorde não veio por acidente. Eu me esforcei muito. Estava me preparando há mais de 3 anos. Treinava 6 dias por semana”, conta o mergulhador sobre a dedicação necessária, em nota.
Mesmo com o reflexo de mergulho, a maioria das pessoas não consegue prender a respiração por tanto tempo, mas a resposta fisiológica do corpo humano é bastante importante para este recorde. Inclusive, a frequência cardíaca cai a níveis impressionantes nesse momento limite, podendo chegar perto de 10 BPM em certas circunstâncias, como demonstram outros estudos.
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