Presença de químicos eternos no sangue prejudica o sono

Presentes em florestas e nas cidades, os produtos químicos eternos, conhecidos como substâncias perfluoroalquílicas e polifluoroalquílicas (PFAS), invadem também o corpo humano. Em jovens adultos, a alta concentração desses poluentes no sangue afeta a qualidade do sono, com complicações para a saúde, segundo estudo desenvolvido por pesquisadores da Universidade do Sul da Califórnia (USC), nos EUA.
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“A privação do sono e os distúrbios do sono podem exercer um impacto imediato nas atividades diárias, no humor e na saúde”, destacam os autores sobre os possíveis desdobramentos da descoberta envolvendo os químicos eternos. O estudo foi publicado na revista Environmental Advances.
“A longo prazo, os distúrbios do sono estão associados a efeitos adversos em diferentes partes do corpo humano, incluindo o coração, o fígado e o cérebro“, complementam sobre a relevância deste impacto, até então, não identificado aos PFAS.
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O que são produtos químicos eternos?
Antes de seguir, vale mencionar que os químicos eternos são derivados de uma infinidade de produtos usados no dia a dia, como roupas impermeáveis, panelas com revestimento antiaderente e espumas de combate a incêndio.
Quando chegam ao corpo e ao sangue, os produtos químicos eternos interferem e pioram a qualidade do sono de jovens adultos (Imagem: Cooker King/Unsplash)
No entanto, essas substâncias são altamente duráveis e se acumulam no meio ambiente ou no corpo humano, onde causam diferentes tipos de prejuízos. Inclusive, podem afetar a reprodução, alterar o funcionamento do sistema imune e piorar a qualidade do sono.
O dilema da ciência é que, conforme o conhecimento sobre os riscos dos químicos eternos aumenta, ainda há pouca coisa que se possa fazer para limitar a interação com esses materiais. Afinal, podem contaminar alimentos e fontes de água, sendo eventualmente engolidos.
Químicos eternos impactam o sono de jovens
Nesta pesquisa, o grupo de cientistas norte-americanos analisou amostras de sangue de mais de 130 participantes, que tinham entre 19 e 24 anos. A ideia era medir a presença de sete tipos diferentes de PFAS e cruzá-las com informações sobre a qualidade do momento de descanso à noite.
Da lista de PFAS analisados, os pesquisadores identificaram que a elevada concentração de quatro deles (PFDA, PFHxS, PFOA e PFOS) é mais comum em pacientes que dormem menos do que o necessário e têm problemas envolvendo os padrões e a qualidade do sono.
Os jovens adultos com os maiores níveis sanguíneos de PFDA, PFHxS e PFOA dormiam, em média, cerca de 80 minutos a menos do que aqueles com níveis mais baixos desses três tipos de produtos químicos eternos.
Além disso, as concentrações excessivas de PFOS foram relacionadas a dificuldade em adormecer, dormir menos que o tempo adequado ou se sentir cansado durante o dia (como se o sono não fosse restaurador o suficiente).
PFAS alteram funcionamento de genes
Na segunda etapa da pesquisa, o grupo investigou se os químicos eternos poderiam afetar genes ligados ao sono. Segundo os autores, sete genes diferentes podem ser ativados ou desregulados pela presença de PFAS, com base na análise dos jovens recrutados pelo estudo.
Entre os genes afetados, está o HSD11B1. Este atua na regulação da produção do cortisol, que é um hormônio ligado a períodos de estresse e momentos de alerta. Em altas doses, pode dificultar que a pessoa consiga dormir.
Mais estudos ainda são necessários para medir os impactos da presença dos químicos eternos em jovens e os possíveis riscos à saúde. Inclusive, será necessário analisar essas correlações em grupos maiores de pessoas, buscando entender se os efeitos são sempre os mesmos.
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