Conheça o peixe com pernas de caranguejo e “asas” de passarinho
O tordo-do-mar-do-norte é uma criatura marinha que pode confundir os desavisados. Olhando pela primeira vez, alguém pode pensar que ele é 50% peixe, 25% caranguejo por causa de suas “pernas” e 25% passarinho devido a suas “asas”. Entretanto, é um peixe por completo, mesmo com suas particularidades. É tão estranho que dá até para chamá-lo de ornitorrinco dos mares.
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Diferente da maioria dos peixes, a espécie Prionotus carolinus desenvolveu características únicas durante a evolução. Por exemplo, as suas nadadeiras lembram muito as asas de um passarinho, mas, até o momento, não há nenhuma evidência de que o tordo-do-mar-do-norte possa voar, como os peixes-voadores (Fodiator acutus).
Por outro lado, as seis patas ou pernas de caranguejo do tordo-do-mar-do-norte são realmente impressionantes. O peixe as usa como se estivesse “andando” no fundo do mar, o que despertou a curiosidade de uma equipe internacional de cientistas. A verdade é que elas não são propriamente patas e, sim, apêndices, como indica o estudo publicado na revista Current Biology.
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Investigando o peixe com pernas de caranguejo
A curiosidade em relação a essas pernas de caranguejo era tanta que se debruçaram sobre a característica atípica do tordo-do-mar-do-norte pesquisadores da Universidade Stanford (EUA), da Universidade Harvard (EUA), da Universidade de Gênova (Itália) e do Instituto Max Planck (Alemanha).
“Os tordos-do-mar são um exemplo de uma espécie com uma característica muito incomum e muito nova”, reforça Corey Allard, pesquisador do Departamento de Biologia Molecular e Celular de Harvard, em nota sobre a pesquisa.
A conclusão do estudo foi que as seis “pernas” são extensões das nadadeiras peitorais, sendo que “saem” três de cada lado. Muito além do auxílio na locomoção, elas funcionam como um órgão sensorial. São cobertas por papilas gustativas (como as que os humanos têm na língua), que conseguem “sentir” (detectar) e cavar pequenas presas no fundo do mar
“As pernas são cobertas por papilas sensoriais que recebem densa inervação de neurônios sensíveis ao toque, expressam receptores gustativos epiteliais não canônicos e mediam a sensibilidade química que impulsiona o comportamento predatório de escavação”, detalham os autores sobre a função dessas estruturas, no artigo.
Membros usados na caça e em varreduras do solo
Como parte da pesquisa, os cientistas conduziram alguns experimentos, em cativeiro, com os peixes P. carolinus. Dentro do aquário, eles intercalavam momentos de natação com períodos de “caminhada”, durante a caçada. Inclusive, podiam usar seus apêndices para arranhar a superfície da areia em busca de presas, como crustáceos e mexilhões.
A partir dessa capacidade em identificar presas enterradas e supostamente invisíveis, é que começaram a teorizar sobre a função das pernas de caranguejo. Outras rodadas de testes foram feitas, usando cápsulas contendo produtos químicos. Novamente, os peixes podiam sentir o material. Testes genéticos e análises dos tecidos confirmaram esses achados tão únicos da espécie.
Mais espécies de peixes com patas
Durante o processo de pesquisa, chegou até a equipe um suposto novo lote de peixes do tipo tordo-do-mar-do-norte. Eles tinham as seis pernas e nadadeiras parecidas com asas, mas não conseguiam usar as patas para localizar refeições escondidas no solo.
Eis que o lote pertencia, na verdade, a uma espécie prima, o tordo-do-mar-listrado (Prionotus evolans). Estes não evoluíram da mesma forma que os parentes, com um alto nível de sensibilidade nas pernas.
Por isso, o tordo-do-mar-listrado não conseguia cavar presas escondidas. Então, usava as suas seis pernas apenas para locomoção no fundo do tanque, sem grandes habilidades extras.
Cientistas descobrem como funcionam as seis pernas de caranguejo que uma espécie de peixe têm, além de suas nadadeiras em formato de asas (Imagem: Allard et al., 2024/Current Biology)
A espécie de tordo “cavador” vive em regiões geograficamente limitadas da Nova Inglaterra (local nos EUA) e da Costa Atlântica Nordeste. A ocorrência é maior em águas rasas e bastante arenosas, onde as habilidades são melhor aproveitadas. Tal especificidade envolvendo as papilas gustativas fez com que os pesquisadores concluíssem que essa característica foi um ganho evolutivo muito recente durante a evolução, tudo limitado, aparentemente, a uma única espécie do grupo.
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